Primeiramente, gostaria de propor a mudança do nome para “Estudo da Linguagem Musical“, pois aproxima mais a ideia de Música com Comunicação que, como a língua escrita, possui gramática, sintaxe, um leitor ou ouvinte e uma mensagem que se queira transmitir. Portanto, se Música é linguagem, para trabalharmos com fluência devemos conhecer os signos dessa linguagem. Não basta, por exemplo, conhecer as letras do alfabeto e algumas palavras para sermos considerados poetas. Precisamos construir frases que tenham coerência, que façam sentido e transmitam algum significado para o leitor. Com a Música é a mesma coisa: não basta conhecermos as 12 notas musicais para sermos grandes compositores. Temos que elaborar combinações que alguns ouvintes possam entender, não importando o grau de sofisticação da linguagem e dos ouvintes. Vocês já pararam para pensar quantos livros, artigos, palestras e até ciências foram criadas a partir dessas “simples 12 notinhas“?!
*A música é regida por princípios físicos e matemáticos que, bem compreendidos, podem nos levar a entender melhor o que cantamos/tocamos e, principalmente, o que OUVIMOS.
Na verdade, o objetivo maior do estudo seria aprender estes códigos e entender como apreciar e transformar desejos estéticos e sensações em Símbolos Musicais para atingirmos um grau maior de expressividade. No fundo, estamos “organizando nossa intuição” e transformando-a em MÚSICA!
*Muitos dizem que “Teoria é um estudo chato e sem muita importância”. Com certeza, estão cheios de razão para pensarem assim. Muitos métodos adotados em Escolas e até em Faculdades de Música estão desatualizados e continuam cada vez mais distantes das necessidades do músico nos dias de hoje. Isto significa que o aluno, no seu dia-a-dia, ouve Jazz, Funk, Axé e Rock, por exemplo e, na hora de estudar, aprende a montar Contrapontos da época Medieval a partir de Cantus Firmus! Por isso ele diz que o estudo é chato, pois para ele não tem aplicação prática, e diz que também não vai ter importância, porque simplesmente NÃO USA.
Com isso, não quero dizer que nunca estudaremos Contrapontos Medievais, e sim que, se o professor não souber organizar o estudo respeitando a necessidade do aluno, ele pode simplesmente odiar Teoria Musical e criar uma barreira difícil de ser transposta mais tarde.
Em resumo, não podemos ensinar “receita de peixe” se o aluno, no seu dia-a-dia, só cozinha “massa”. Para aliviar um pouco esta barreira da Teoria, costumo perguntar ao aluno: você gosta de música? Gosta de falar de música? Se gosta, saiba que Teoria é falar de música! Só precisamos encontrar um papo legal!
Proponho que ao começar um curso, aluno e professor estabeleçam objetivos e metas de ensino pois, nos dias de hoje, com o tempo cada vez mais curto que temos para estudos. É muito triste descobrir, após 4 ou 5 anos, que não aprendemos quase nada!
SUGESTÕES DE ESTUDO
Procure criar uma cronologia nos assuntos, pois alguns conhecimentos são pré-requisitos para assuntos mais avançados.
Apresentarei minhas sugestões para o Estudo dos Cantores/Músicos Populares com idade a partir dos 10 anos :
- Inicialmente aprenda noções de Acústica (Som e Ruído, Série Harmônica), Propriedades do Som, Notas Musicais e Acidentes e Cifrado universal.
- Em seguida, tudo sobre Intervalos, Acordes e Escalas (ao menos as Modais, Tonais, Pentatônicas e Blues).
- Aprenda Harmonia Básica (Campos Harmônicos e Análise Básica), já entrando em Escrita de Partitura, Grafia Musical e Partitura de Acorde.
- Depois faça um curso completo de Harmonia Funcional, onde estudará as funções dos acordes, como substituir acordes em uma música, como criar linhas de baixo interessantes, técnicas de rearmonização e muito mais. Conjuntamente, estude as Escalas Simétricas (Hexafônica, Dominante Diminuta, Cromática) e os modos gerados pelas Escalas Tonais (Lidio b7, Locrio 9, por exemplo).
- A partir da Harmonia, podemos aprender Improvisação e conceitos como: utilização de Escalas sobre Acordes; construir frases (motivos, variações rítmico-melódicas etc…); uso de padrões melódicos; aproximações cromáticas ou diatônicas; caracterizar um Blues e muito mais.
- Neste ponto, devemos perguntar: queremos ser músicos, compositores, arranjadores ou todos eles? Se a resposta é músico, devemos concentrar nossos estudos teóricos na Harmonia, no Improviso e na leitura. Quem, no entanto, quer ser Arranjador ou Compositor pode estudar, conjuntamente ou em separado, cada um deles. Em Arranjo, estudamos todos os instrumentos, inclusive os Transpositores, aprendemos Contracantos Ativos e Passivos, Blocos (melodias com a mesma divisão rítmica) a 2, 3, 4, 5 e 6 vozes, os Perfis ou Abertura dos Acordes (Posição Cerrada, Drop 2, Spreads etc…), a seção Rítmica (Baixo , Bateria , Guitarra, Piano/Teclado), a Escrita para Metais e Cordas, dentre outros assuntos.
Em Composição, estudamos Forma das Músicas, Estilos (Rock, Jazz, Blues, MPB etc…), como compor Introduções, Turnarounds, Melodias, além de técnicas como Tonalismo, Modalismo, Politonalismo, Serialismo e muito mais. Neste ponto dos estudos, é bom salientar que a linha divisória entre Erudito e Popular já não existe mais, pois tudo é Música!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
*Se você não conhece alguns termos técnicos, pesquise, pergunte, pois você precisa sempre saber o contexto do que está aprendendo
*Você não precisa ser Doutor em Música para aprender Linguagem Musical, e ela pode, sim, ser muito acessível a todos! O professor é muito importante neste processo e pode criar ambientes virtuosos de ensino, por exemplo, com o uso dos novos recursos de tecnologia de Apps e programas incríveis!
* Inclua nestas sugestões estudos igualmente importantes, como História da Música Universal e Brasileira, que podem ser feitos a qualquer momento.
* Nunca deixe de estudar a Percepção Musical em conjunto com a Teoria. Procure ser capaz de ouvir tudo aquilo que lhe ensinaram teoricamente.
* Se você sente que possui um bom ouvido e fluência até para compor, mesmo sem conhecimento formal, não tenha medo de estudar achando que vai perder esse “dom natural”. Ao contrário, você irá ganhar mais um aliado neste meio profissional que exige muita rapidez para as soluções musicais.
* Por fim, sinceramente não acredito que alguém que AMA verdadeiramente a música, – seja como músico ou até apreciador das Artes – não tenha, no mínimo, curiosidade de saber mais sobre este mundo fascinante dos sons que tanto nos atrai!
Espero ter contribuído na reavaliação de seus estudos.
*Confiança e Trabalho!
Paulo Brito
Coordenador Pedagógico da escola Voice